Os sucessores

Zeus, Poseidon e Hades. O céu, o mar e o inferno, os três maiores reinos desse mundo, um mais diferente que o outro, com leis e regras diferentes, mas é claro que a convivência de um com o outro pode ser perigosa, ela simplesmente não consegue dar certo.
Há anos e anos, Zeus Poseidon e Hades se evitam, pois eles sabem que qualquer desentendimento entre eles pode acabar se tornando uma guerra que destruiria o planeta. Mas como essas três forças são imortais, evitar não é suficiente nem algo possível de se fazer para toda a eternidade.
O tempo se passou e tudo estava em completa harmonia em toda a Terra. Mas nem os deuses e muito menos os mortais, podiam imaginar o destino traçado pelos moiras, que envolvia não só o futuro dos deuses mas também o futuro de todos os reinos.



Os deuses estavam no Olímpo, cantando, dançando e se divertindo numa das famosas festas de Dionísio. Entre os convidados da grande festa estava o Rei e a Rainha do céu, Zeus e Hera, o Rei e a Rainha dos Mares, Poseidon e Anfitrite e o Rei e a Rainha do Inferno, Hades e Perséfone. Cada uma das realezas em um canto do salão que era enfeitado por grandes colunas gregas.
As realezas faziam o possível para evitar contato entre si, mas seus filhos não. Tritão, o príncipe e sucessor do trono dos mares estava na pista de dança, assim como Hebe, filha de Zeus e Hera. E ambos dançavam como se não se importassem com a presença do outro. Mácaria, a princesa e sucessora do trono do inferno olhava de longe Tritão dançar, com um sorriso bobo na cara, admirando as belas feições do deus como se ele fosse tão belo quanto Afrodite.
Perséfone percebendo o olhar da sua filha para o príncipe dos mares ficou horrorizada e se levantando da sua mesa puxou sua filha junto pelos braços indo para um lugar afastado dos outros deuses.
- Ai mãe! Por que você está me puxando? - Mácaria perguntou com sua voz doce.
- Olha aqui mocinha, eu vi com que olhar você olhou para aquele.. para aquele.. PARAQUELE MONTE DE LIXO! - Perséfone gritou para filha, já sem controle.
Mácaria ficou muda na hora. Ela sempre temeu que esse dia chegasse, o dia que seus pais descobrissem sua paixão por Tritão.
- Eu.. Não sei do que você está falando! - Ela respondeu a sua mãe tentando contornar sua situação.
- Não se faça de boba, eu vi o modo que você olhava para ele... - A voz de Perséfone falhou e sua expressão mudou totalmente - Eu.. não vou te proibir de nada, só não deixei seu pai descobrir.
Era inverno, o correto seria Perséfone estar no inferno junto com Hades. A personalidade de Perséfone mudava dependendo da época do ano, metade do ano ela ficava no Olimpo, quando era Kóre, a eterna adolescente, deusa da primavera e das flores, mas na outra metade do ano ela ficava no inferno quando era Perséfone, a Rainha do inferno. O fato de ela estar no Olimpo quando era Perséfone mexia com a personalidade dela e ela começava a agir estranho e ter mudanças de humor e de decisões.
A mãe e a filha voltaram para a mesa silenciosamente como se nada tivesse acontecido e Hades ficou observando as duas, se perguntando o que as duas tinham conversado.
Mácaria então voltou para o seu passa tempo, que era paquerar Tritão, só que dessa vez mais discretamente, e Perséfone se pos a fuzilar sua filha com o olhar.
Tritão de vez em nunca olhava disfarçadamente para a mesa que a família real do submundo estava, só para ver se Mácaria estava olhando para ele. Mas era díficil de saber, a deusa olhava na direção dele, mas tinha um olhar distante e sonhador que impedia de alguém perceber de longe para onde ela olhava. Mas Tritão torcia para que ela se levantasse e viesse para a pista de dança. Eram raras as vezes que eles se encontravam e quando se encontravam estavam sempre distantes um do outro. Nenhum dos dois tinha coragem de se aproximar um do outro com seus familiares perto.
O tempo estava passando e logo a festa iria terminar, Tritão já estava perdendo as esperanças de poder pelo menos se aproximar da princesa do inferno quando Mácaria pegou uma taça cheia de néctar e bebeu num só gole, fechou os olhos com força como se não quisesse ver ou imaginar alguma coisa e logo depois se levantou e se dirigiu a pista de dança.
Perséfone, que ficou irada ao ver sua filha ir naquela direção, acabou por amassar seu copo de ouro e Hades começou a interrogá-la, tentando descobrir o porque dela estar agindo daquela forma.
Tritão mau podia acreditar que Mácaria estava mesmo vindo para a pista de dança, ele nunca tinha visto ela dançar e estava cheio de expectativa só por ela ter se aproximado.
Mácaria ao chegar na pista de dança já estava arrependido de ter ido até lá, e já pensava em voltar para sua mesa, além de tímida ela não sabia dançar. Mas a deusa não queria mostrar esses lados da personalidade dela para Tritão, ela então percorreu o olhar pela pista de dança até avistar Hebe, a filha de Zeus e deusa da juventude, que dançava descontraidamente. Mácaria então se pos a imitar os movimentos de Hebe que ao perceber isso, deu uma risadinha e se aproximou de Mácaria.
- Vai me dizer que você não sabe dançar, priminha?! - Hebe falou num tom sarcástico, e devido ao silêncio de Mácaria, logo acrescentou - Primeiro relaxe seus músculos, segundo não tente imitar ninguém porque pega mau, terceiro..
Mácaria não acreditava que a sua prima estava mesmo ensinando ela a dançar, afinal o pai das duas eram inimigos mortais e enquanto seguia as dicas de Hebe olhava com o rabo do olho para Tritão, para ver se ele olhava para ela, e após constatar que ele olhava na sua direção ela se perguntou se ele olhava para ela ou para sua prima, Hebe.
- ... e o principal de tudo priminha, enquanto dançar, não olhe pra ele muito não que isso acaba fazendo você parecer uma Deusa fácil, e vai por mim, tirando Apolo, nenhum deus gosta de divindades fácies!
Mácaria se assustou ao ouvir o comentário da prima, só nessa noite ela já era a segunda divindade que havia descoberto seu interesse por Tritão.
- Mas eu até que te entendo, Macá. Nosso primão não é mesmo uma gracinha? - Hebe perguntou, mostrando que sabia quem a prima tanto olhava - Aqueles braços fortes... estão me deixam louca!
- Eu não acho que ele seja tudo isso! - Mácaria respondeu num tom indiferente - Para mim ele não passa de um garoto mimado que ainda tem muito para aprender antes de me chamar a atenção. Além disso, porte físico não é tudo.
- Esqueceu que eu também sou a deusa das noivas? A paixão faz parte indiretamente da minha esfera de controle e por isso eu sei reconhecer vítimas de tal sentimento. - Hebe disse com firmeza enquanto sorria. - Por que você não vai falar com ele?
- Com meus pais vendo?! - Mácaria respondeu sem mais tentar esconder seus sentimentos - Eu nunca iria falar com ele sozinha!
- Então vamos nó duas! - Hebe disse enquanto passava seu braço em torno dos braços de sua prima e levava ela em direção a Tritão.
A verdade era que Hebe também estava gostando de Tritão e assim como sua prima, ela não tinha coragem de ir falar com ele sozinha na frente dos seus pais. Ela carregava certa arrogância que a fazia pensar ser melhor que Mácaria e na primeira oportunidade ela pretendia roubar a atenção e o amor de Tritão para si mesma. Sim, ela já sabia que Tritão também estava apaixonado por Mácaria, mas Hebe não pretendia deixar essa paixão seguir em frente, afinal ela gostava de Tritão a mais tempo.
O salão quase parou ao ver os três príncipes conversando, sendo dois deles sucessores já confirmados para os tronos. Seus pais estavam chocados e assistiam os gestos de seus filhos se perguntando o que eles conversavam. Hades começou a pressionar Perséfone mais ainda, querendo saber o que estava acontecendo e numa das suas mudanças de personalidade começou a contar o que acontecia.
- Oi primão! - Disse Hebe para Tritão enquanto abraçava o mesmo - Eu estava falando pra Macá que estava morrendo de saudade de você. Já que nós quase nunca conversamos ou nos vimos. Mas e então, como está passando sua eternidade?
- Há eu vou bem, um tanto entediado, mas bem. - Tritão respondeu com sua melhor voz, rouca e grave, tentando seduzir Mácaria - E você prima, como tem passado no mundo inferior?
Mácaria se controlou para não esboçar um sorriso, Tritão estava se dirigindo a ela. Hebe ficou um tanto constrangida, ela percebia que a paixão dos dois era mais forte do que ela pensava.
- Eu tenho ajudado meu pai a governar o submundo. As almas não param de chegar e é meu papel como sucessora do trono dar uma força para ele e minha mãe. - Mácaria respondeu com sua voz doce, melodiosa e mortal.
- É eu sei bem o que é isso. Meu pai está reconstruindo seu Palácio que foi destruído na guerra contra Cronos e me deixou encarregado por cuidar do reino enquanto isso. Tem sido muito cansativo! - Tritão disse, tentando se passar por responsável, a verdade era que seu pai não deixava ele tomar nenhuma decisão quanto ao reino pois o achava muito irresponsável e imprudente.
- Meus pais também me deixam no controle dos deuses... as vezes. - Hebe disse, tentando se infiltrar na conversa, mas todos sabiam que era mentira. Zeus não deixava nem mesmo Hera governar, quem diria sua filha.
A música então mudou e os três se retiraram da pista de dança.
- Quando você arranjar tempo, de uma passada em Atlântida. Eu e meu pai ficaríamos honrados em receber uma visita sua!
Hebe e Mácaria sorriram simultaneamente e logo depois se perguntaram qual das duas eles estava convidando. Tritão percebendo a situação logo acrescentou:
- Você também estava convidada, Hebe. - ele disse entre um sorriso torto.
- Pode deixar que eu com certeza apareço!- Hebe respondeu cheia de energia na voz e sempre mantendo seu sorriso forçado.
- E você, priminha... ? - Tritão se voltou para Mácaria, perguntando com uma voz hesitante que sem querer demonstrou seu medo do que poderia ser a resposta - Vai dar suas caras também?
- Se eu conseguir arranjar tempo talvez eu até apareça, mas eu duvido que eu consiga! - Mácaria respondeu dando uma de difícil, sua prima tinha dito que deuses não gostavam de mulheres fácies e ela iria tentar usar dessa dica para seduzir Tritão.
Nesse instante, Perséfone acabava de terminar de contar o ocorrido para Hades que furioso se levantou da sua mesa e se dirigiu em direção a sua filha. Mácaria quando viu seu pai se aproximar logo deduziu o que sua mão havia contado, mas ela não queria passar vergonha na frente de Tritão e por isso ela se despediu de Hebe e logo depois de Tritão com um suave beijo em suas bochechas e se teletransportou para o submundo.
Ela agora não estava mais no salão de festa no luxuoso Olímpo, mas sim sozinha dentro do seu quarto, no castelo de seus pais. Ela caminhou, como se dançasse, até sua cama e se deitou na mesma. Logo a porta de seu quarto fez um estrondo alto e forte. Hades batia irritado na porta do quarto de Mácaria e ela sabia que estava encrencada, mas não se importava com isso. Aquele estava sendo o melhor dia de toda a sua existência. Ela havia ganhado um convite de Tritão e pelo seu ponto de vista, conquistado uma primeira amiga.

Deuses citados: