Local Público: Clareira

A Clareira

Se havia algo que tinha aprendido no Acampamento é que há determinados momentos em que você simplesmente tem de se afastar um pouco para digerir mais uma vez a nova realidade. Que é filho de um deus e vivia em um mundo cheio de monstros. No meu caso o problema parecia triplicar, filha de Zeus o senhor dos deuses, meu cheiro parecia ser mais atrativo ainda para aquelas aberrações. E por mais que eu tentasse sorrir e ri dos casos e acasos de minha vida, havia momentos em tudo o que eu precisava era respirar.

Conhecia um lugar que era perfeito para isso. Fui ao meu chalé pegar minha mochila já preparada para a pequena aventura “zen” e parti com um olhar um tanto baixo, tentando ser discreta ao ir para aquele refúgio que geralmente estava desabituado. Bom, como eu disse, geralmente. Havia entrado pela floresta e pego o caminho a leste. Já podia escutar a paz, as folhas farfalhando com a brisa suave que as beijavam calmamente, o canto dos animais mais ao fundo... Um sorriso simplório brotava em meus lábios automaticamente, meu estado de espírito melhorando a cada passo que dava em direção a clareira...

Até parar de supetão ao contemplar uma figura feminina sentada no banco. Ao que parecia não era a única a conhecer aquele lugar. Meu sorriso de outrora havia sumido por algum tempo e por alguns segundo ponderei o que devia fazer. Franzi o cenho enquanto tentava reconhece-la, não fazia muito tempo que estava ali no acampamento, mas depois de passar um bom tempo com as mesmas pessoas fazendo as mesmas atividades, os rostos desconhecidos passam a se tornar comum em sua vida. Era uma novata? Bem, outro dia descobriria isso. Preferi dar de ombros e girar meu corpo para fazer o caminho de volta. Não iria conseguir ficar só e me abandonar nos meus pensamentos como queria, então era melhor retornar.

Silêncio, escuro, e, em alguns momentos, corujas piavam pacientemente pelas árvores, talvez nem fossem corujas, mas eu queria acreditar realmente que fossem corujas! Meus passos continuavam lentos,como se eu tivesse sido transformada em uma estátua, eu prestava mais atenção no céu estrelado sobre minha cabeça do que em meus passos,acabaria por tropeçar e cair a qualquer instante, não duvidava nada disso. O vento frio batia em meus cabelos loiros os jogando pra trás por frações de segundos seguidas até virarem segundos completos,eu os contava, meu cérebro parecia em certos instantes estar a 100% de sua capacidade e meus reflexos a mil, outras eu parecia bem mais lenta,desligada da realidade, eu tinha medo de quando ficava assim.

Parei por alguns instantes, como se eu tivesse andado muito, é mais eu tinha! Estava na Clareira, menos mal, eu saberia voltar pro chalé. Olhei pro céu cheio de estrelas, pensei em Ártemis por alguns instantes e sorri, o céu estava bonito, muito pra ser sincera, talvez se eu fizesse uma prese ele me ouviria e daria algum sinal sem ser meus estranhos pesadelos, uni as minhas mãos e respirei fundo. - Papai, Sr Zeus, não sei como te chamar, se você está me ouvindo, e eu sei que está, da algum sinal. - Olhei em volta a e nada aconteceu eu parecia uma idiota, ele não ia me responder mesmo. - Quer saber vou pegar todos os garotos do Acampamento e ficar mais rodada que as filhas de Afrodite! - Falei como uma garotinha mimada e revoltada, raios preencheram o céu por alguns segundos e eu me sentei em um banco de madeira atrás de mim. - Agora você responde né? - Olhei os céus e tudo estava lindo de novo, interesseiro ele não? É eu também acho.

A noite estava linda e blá blá blá! Vou ser sincera e ir direto ao ponto, eu estava cansada do chalé de Afrodite, era um bando de garotas e garotos mimados que vivem para encontrar o amor verdadeiro! Baboseira! Eu não quero isso, eu quero a aventura que todos me prometeram, quero sentir o meu sangue ferver de excitação. Suspirei pesadamente e comecei a adentrar a floresta, ouvi algumas palavras sobre filhas de Afrodite e resolvi dar uma olhadinha em quem estava falando.

Sentada a minha frente estava uma garota loira que logo reconheci, mesmo de costas, como sendo Cornelie . Revirei os olhos quando um raio cortou o céu e ela resmungou algo, me aproximei e disse docemente.- Pega leve, ele é bem ocupado...todos eles são. - Sentei ao lado dela e olhei para as estrelas, a lua, o céu. Suspirei e sorri para ela.
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Eu não me assustei com a presença de uma nova pessoa na Clareira, pelo menos era uma companhia, meu chalé já estava entediante, cheio de pessoas de um lado pro outro a procura de ser o melhor e queridinho do papai, isso definitivamente não se encaixava na descrição do que eu queria pra mim. A garota era bonita,como uma verdadeira filha de Afrodite deveria ser e era, me lembrava dela, Blair, nunca trocamos muitas palavras, só as suficientes, na verdade nunca troquei muitas palavras com os demais campistas também,só com meus meio - irmãos e em raras as vezes, preferia me isolar, ficar só na minha, as vezes conversar comigo mesmo com meu espelhinho, as vezes, em outras horas eu fechava minha boca e só pensava parecia mais confortável.

Olhei-a nos olhos por alguns instantes, de certa forma ela tinha razão,mas eles não tinha o direito de serem tão desnaturados, um pai ocupado era uma coisa,um pai ausente era outros milhões e Zeus era definitivamente um pai ausente. - Será que eles não sente-se ruins consigo mesmo em nos largar assim? Tipo nenhum remoço? Será que nos odeiam tanto ao ponto de sermos só peões do jogo de Xadrez sinistro dos deuses? - Desta vez eu não derramei uma só lágrima ao falar do meu pai e de como os deuses eram grandiosamente idiotas, geralmente eu derramava algumas lágrimas de ódio - Desculpe, estou meio irritada com tudo isso, prazer Cörnellie D'immortales, pode me chamar de Cönnie, não fomos devidamente apresentadas - Estendi a mão a ela com meio sorriso, talvez eu estivesse a ponto de fazer uma nova amiga, ou minha primeira amiga por lá, nunca esperei ser popular por ser filha de quem eu era, só queria ter amigos e pronto. Nunca perguntei a ninguém isso, pra alguns é mais delicado que outros, mas como você chegou até aqui? - Eu ouvia tantas histórias dos meus irmãos que faziam a minha parecer boba, eles eram tão fortes , tinham ido a tantas missões e eu era apenas a novata, caçula,fracote.

Balancei as mãos gesticulando exageradamente enquanto dizia- Nem um pouco. Sem remorso. Eles nos amam tanto quando amam o chão em que pisam! Ta, talvez eu tenha exagerado, mas tenho certeza que quando fazemos algo de legal eles nós olham e dizem "Esse é meu peão...quer dizer filho" - Ri de leve olhando ela.-Então Cönnie, eu sou Blair Charlotte Windsor, mas me chame de B! Sou do chalé 10, Afrodite a deusa do amor e da beleza e blá blá blá- Apertei sua mão enquanto sorria de lado para ela.

Engoli à seco e disse sem nenhuma emoção.- Eu fugi de casa... encontrei uma filha de Zeus no caminho, Alexia, ela ficou meio que desesperada quando me achou e me trouxe pra cá. Como todos tivemos nossas batalhas no caminho e... - Minha voz foi falhando, olhei para o céu e sorri o máximo que pude.-Ela era bem corajosa sabe? E mimada, irritada e amiga ao mesmo tempo. De qualquer jeito, eu cheguei sã e salva e é isso que importa não é mesmo?
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