~ Treinos de Amy Saphire

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Atualizado!

Acordei como se tivesse levado um choque. Não, eu não estava tendo pesadelos ou coisas assim, mas uma terrível dor de cabeça me perturbava. Como se alguém estivesse usando uma vara para cutucar meu cérebro. Ignorando a dor, fui olhar meu despertador, que ficava bem ao lado da minha cama. Marcava duas horas da manhã. Deitei-me novamente, a dor começando a piorar cada vez mais. Meus olhos ardiam. Só podia querer dizer alguma coisa.
- Levante-se, preguiçosa. – Falou uma voz... Não. Duas vozes, em perfeita harmonia; que na verdade eram idênticas. Sentei na cama, como se aquela voz fosse autoritária demais para mim e olhei em volta. Nada.
- Aqui! – A voz falou, dessa vez sozinha. Eu me virei para a direita, e quase gritei. Um corpo. Duas cabeças. Cada uma coberta por uma máscara feliz e a outra triste. Mas pareciam se alternar... Me deixando confusa. – Gostou da dor de cabeça?
Pisquei.
- O que você quer de mim, afinal? – Sussurrei. Alguns dos meus irmãos se viravam em suas camas, impacientes. Mas estavam apenas dormindo. Eu acho.
- Queremos que vá lá fora, há uma caixinha para você, pertinho da arena. – Disse um rosto. – Mas não precisa ir, se não quiser. – Disse o outro.
Eu quase me aliviei, até que ambos disseram:
- Assim não estará provando o seu valor. Estará desonrando o nome de seu pai e toda a sua família.
Joguei meus cobertores no chão. Eu usava a camisa laranja do Acampamento Meio-Sangue e uma calça legging preta.
- Quem... Quem é você?
Os rostos se entreolharam, e começaram a falar.
- Eu sou Jano. O deus das indecisões, das portas, do certo e errado, do sim e do não.
Mordi o lábio inferior.
- O que eu tenho que fazer para que me deixe em paz?
Jano apontou para a saída. Óbvio, ele falara sobre uma caixa, e o que havia dentro da caixa. Jano começou a desaparecer, e eu sabia que não ia me deixar em paz tão fácil assim. Coloquei um casaco, peguei meu arco e procurei na minha gaveta de roupas, remexendo tudo até que achei uma espada de bronze, brilhava tanto que mostrava meu rosto, e atrás de mim os do deus. Virei-me, e ele não estava mais lá. Se aquilo era um sonho era com certeza o mais estranho que já havia tido. Coloquei meu arco e as flechas no ombro, peguei a espada e empurrei a porta, com cuidado. Eu estava me metendo em encrenca, era a hora que as Harpias passeavam por aí em busca de devorar os semideuses que descumpriam horários, mas eu descobri que os imortais podem ser bem sentimentais quando querem.

☼

A voz de Jano dizendo que a tal caixa estava perto da arena ecoava em meus pensamentos. O que havia dentro dela? E a pergunta maior era... Por que eu? Era aquele o momento de minha morte? Eu ainda estava alerta com a espada para possíveis ataques, não importando o quão horrível eu era com ela. Cheguei na arena, o vento soprava frio que meu nariz ardia quando eu respirava. Não via nada por perto, apenas aqueles bonecos de palha. Frustrada, golpeei um, partindo-o no meio. Só então percebi que havia algo perto da parede de escalada. A luz da lua iluminava uma caixa grande. Logo de cara percebi que estava tremendo... Alguma coisa dentro dela se movimentava.
- Certo, não vou abrir esta coisa. – Murmurei, e a dor no meu cérebro voltou. “Fez a escolha errada, fracassada” disse a voz de Jano “Não é verdade! Fez a coisa certa!”, falou ele comigo novamente. Fiquei chateada em ser chamada de fracassada, mas como eu era mesmo uma garota estúpida, andei a te a caixa e usei a espada para abri-la. Parecia que era feita de papelão, mas um tipo bem resistente. Fui dando passos lentos para trás. Não havia notado que minha mão estava tremendo, até que saíram da caixa as surpresas. Dois escorpiões venenosos, de pelo menos um metro de comprimento cada um.
- Ah, não! – Murmurei e saí correndo deles em direção ao centro da arena. Esperava que os monstros fossem lentos, porém eles pareciam deslizar no chão. – Porcaria!
Eu sabia que cuidar dos dois sozinha era tentativa de suicídio. Os escorpiões espumavam pela boca, tinham presas enormes e caudas afiadas. Era do tipo de diversão para os campistas reunidos em grupo. E eu estava lá, sem ter muitas idéias do que fazer.
Soltei a espada, peguei meu arco e sem pensar direito atirei no que estava mais perto de mim. O escorpião se contorceu no chão, pegando fogo. O outro aproveitou a situação e mordeu meu tornozelo.
A dor foi inexplicável. Parecia que a minha perna toda pegava fogo. Em alguns minutos eu tinha certeza que perderia o movimento daquela perna. Antes que o asqueroso fizesse outra coisa, eu peguei a espada novamente e cortei sua cauda. Ele emitiu um som, acho que não deve ser legal quando cortam sua calda. Tentei me concentrar em qualquer coisa que não fosse a minha perna doendo, porque aquele que eu tinha acertado se recuperara do fogo e da flecha, não ligando para ela.
Comecei a correr, sendo seguida por eles; mas a minha perna não agüentou. Caí, ainda segurando a espada, então ralei alguns dedos e a palma da mão. Os escorpiões se chegaram mais perto de mim, e cortei a cabeça do mais próximo. Do corpo decapitado começou a sair um líquido verde nojento... Veneno. Deixei de ficar admirando aquela meleca e levantei, olhando para o que restara. Lembrei da dor na perna e meus dedos ralados ardiam por causa do vento frio.
- Você – Rosnei – Gostou da minha flecha?
Ela estava partida pela metade, cravada nele. O escorpião sibilava enquanto se aproximava de mim, borbulhando ainda pela boca. Minha perna tremeu, mas eu me segurei. O monstrinho percebeu meu momento de fraqueza e abriu a boca, sua língua bifurcada e arroxeada a mostra.
- Bela língua. – Murmurei, antes de enfiar a espada na sua boca. Mais veneno verde começou a jorrar, mas logo percebi que os dois se dissolveram em pó amarelo, sendo levados pelo vento. Minha perna mordida falhou novamente, e caí sobre ela. Rangi os dentes por conta da dor, mas não ia esperar que uma ajuda caísse do céu. Rasguei uma parte da minha blusa, deixando minha barriga à mostra (em circunstâncias normais eu estaria agora roxa de vergonha). Levantei a calça e percebi que o ferimento estava negro. Amarrei o pano rasgado em volta dele e me levantei, tentando andar confiando em apenas uma perna. Assim que chegasse no chalé, pediria ajuda de algum dos meus irmãos.

40 xp
Poderia ter tido mais ação x)